segunda-feira, março 24, 2008

Fuga à excepção

Nunca fui de criticar o governo ou as suas políticas - sempre achei que quem ocupa o poder se está a esforçar verdadeiramente por pôr o país a andar para a frente.
Acho que desde que começámos este blog nunca falámos de política. Mesmo com medidas muito controversas, nunca critiquei o governo deste primeiro-ministro. Sempre me esforcei compreender.

Até hoje...
Não consigo compreender mais o porquê deste terrorismo social.
A princípio ainda pensei: «É difícil, mas temos de aceitar. O esforço é necessário. Temos de saber suportar porque tudo isto é para o bem do país e, mais importante, para o bem das pessoas...»
Mas acho que não consigo pensar mais assim. A compreensão tem limites e o governo está a falhar completamente em perceber que se o cidadão está insatisfeito, por melhor que seja a medida, talvez não valha a pena seguir esse caminho (ou seguir esse caminho dessa forma). Não quero parecer hedonista, mas se o povo não sente prazer no dia-a-dia, se não consegue ver que existe um objectivo em todas dificuldades, se o povo está infeliz, não vale mesmo a pena. Tanto quanto sabemos temos apenas uma vida (as diversas religiões podem discordar), valerá mesmo a pena passá-la em sofrimento, em dificuldade e insatisfação? Não!
Não estou a apelar ao facilitismo, até porque acredito que não existem soluções fáceis, mas há maneiras e maneiras de as alcançar.
Por exemplo: Todos sabemos que é importante contribuirmos para a sanidade fiscal do Estado, pagando impostos. Em Portugal os valores taxados são muito altos, quando comparados com o ordenado médio luso e com o resto da Europa; o preço da electricidade, da gasolina, da água e do gás são dos mais altos do U.E. As pessoas vão se queixando, mas o que fazer? Provavelmente há jogos de interesses e preços cartelizados, que (para infelicidade e vergonha minha) vejo-me obrigado a admitir que sem os quais o país não anda para a frente. Agora o problema é: Qual a necessidade de ultrapassar e pisar a dignidade dos portugueses? Serão todos os portugueses iguais perante a lei? Sim, são. E perante o governo? Não, não são.

- O esforço de uns não tem paralelo em sectores mais endinheirados da sociedade - não quero saber das balelas de que quem é rico, trabalhou e investiu muito para chegar onde chegou, esses têm muito dinheiro e fazem eles muito bem - mas não deveriam este ter um papel social muito (muitíssimo) mais activo?

- Para quê humilhar os portugueses através de medidas como a fiscalização dos gastos de casamento? O povo não merece ser insultado assim - todas as outras cobranças (IVA, IRC, IRS, etc., etc., etc.,) chegam;

- Não conheço o novo estatuto mas, estarão 100 mil professores errados e meia dúzia de governantes correctos?;

- Será que alguém já percebeu que esta cegueira em aproximar Portugal da Europa, está na realidade a afastar o povo português da realidade (económica e social) da Europa?

- É necessário qualificar o povo português, mas são impostas medidas de estandardização do ensino universitário público que, além de o tornar muito (mas muito) menos eficiente e muito mais pobre em termos curriculares, torna-o quase privado. Ninguém se atreva a dizer que é assim que se passa na Europa toda, porque a Europa toda não tem um ordenado médio tão baixo quanto o português;

- São criados organismos, que por muito úteis que seja, desrespeitam a alma portuguesa. Refiro-me à ASAE. Parece que está na moda falar mal da ASAE, mas acho que era necessário regular e fiscalizar algumas acções e práticas alimentares e económicas, mas, infelizmente, o caminho seguido é o do ultraje. Não existe qualquer necessidade de fazer o caminho desta forma. Quem gosta de comparações com a Europa, vá lá fora e veja a realidade alimentar e económica e depois compare com a realidade portuguesa;

- De quando em vez lemos, vemos e ouvimos situações de perseguição à liberdade de expressão e de opinião...

Muito mais haveria a dizer, mas pergunto-me: Para quê? Para quê matar Portugal? Portugal, o país enquanto entidade legal, histórica, social e económica, só existe porque nele vivem pessoas que se dizem portugueses e são esses que deve experienciar e viver a nação, é para esses que devemos trabalhar e não para a entidade "Portugal".
Já chega de asneiras, já chega de cegueira, já chega de terrorismo social.

2 comentários:

sandra disse...

Finalmente um post a sério no nosso blog!
Muito bem dito, apoio a 100 %.
Mas é desta que nos fecham aqui a tasca…

Frederico disse...

Quem me dera que fechassem. Era sinal de que alguém o lê.