Já estou farto. Farto de escrever com regras, farto de pensar para além da acção, farto de ler e de desejar ler quando não estou a ler. Estou farto de olhar para trás e ver se coloquei todas as vírgulas. Estou farto de não ter coragem, coragem para escrever ‘tou’, coragem. Farto também já estou de me ouvir na minha cabeça a descrever o que vou fazer e o que faço e que irremediavelmente nunca sai como planeado.
Quando me fartar de escrever, talvez retome a leitura, para voltar a entediar-me com a sua companhia e voltar a dançar pela ponta da caneta. Movimentos oscilantes, movimento erráticos.
Eu não falo assim, julgo que nem sequer penso assim. Eu falo com o tal ‘tou’ e penso sem pontuação. Grito com a minha pronúncia, digo mal cada palavra que solto e deixo as palavras seguintes cortarem o discurso presente. Então se não falo assim, se não escrevo assim, quem estará a escrever isto por mim? Será a caneta? Será o papel? Talvez sejam as outras pessoas que passam, agitam o ar e aqui deixam seus hábitos.
Corte.
Vira a página e escapa-me a ponta. Mas a ponta regressa à minha mente, depois aos meus olhos e mais tarde à minha mão.
Ai tentação. Tentação de alterar um pensamento puro, que se constrói quando esvaziamos a caneta e deixamos que a escrita entre no papel. Atrapalhei-me. Olho para trás. Era apenas uma personagem de banda desenhada quem em casa é um psicopata. Não é de banda desenhada, é bonecagem portuguesa.
Já fugi e farto desta caneta ainda não estou. No entanto estou farto do pensamento, estou farto de fazer contas sem números e de juntar blocos que encaixam apenas de olhos fechados. Estou farto de me esforçar para compreenderem e me deixarem escrever. Momento.
Desejo.
Quero olhar para trás e lá ver o que fiz e nunca tinha feito, mas se o fizer vou contar – olhos fechados –, vou mentir e vou enganar, quando ninguém quer saber e ninguém ia notar. Apenas eu e eu era o único enganado, o enganador e o engano. Virei e quase nem notei quando o duplo maluco surgiu. Vestia de castanho-escuro. Vestes até aos pés, debruadas de rosas que eram linhas. Felicidade da alma que acreditamos ter, quando acreditamos em Deus com a boca, com o tronco, mas não com a mente. Só com o coração. Mas com o coração dos outros, porque o nosso ou não nos pertence ou não é religioso.
O meu outro eu está a chegar. Deseja olhar e pegar na caneta.
A pessoa mais estranha do mundo usa uma mochila da Betty Boop e interessa-se por Antropologia – curiosos – ou Sociologia.
À medida que o tempo passa unimo-nos e vamos ter saudades de estar longe. Ter saudade não é só estar junto em pensamento e desejar estar perto. Saudade é. Parei e não perdi.
Temo olhar a janela, olhar o corredor, olhar em frente, ver as horas, temo tudo, mas sei que não há nada a temer, pois o fim da linha é literalmente o fim da folha e aí tenho de sabe acabar.
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